Acabei ministrar uma palestra na Anhembi Morumbi – campus Paulista, onde tratei da história do Marketing, a mesma palestra que dei no dia anterior no campus da Vila Olímpia.
Estes encontros, que não considero como uma palestra mas como um bate-papo com os amigos, é muito, mas muito enriquecedor. Além de rever os antigos alunos que vem de outros campus e outros horários (alunos do matutino, por exemplo), as perguntas que costumam fazer são espetaculares. Não são aquelas feitas para que o palestrante “deite e role” nas respostas e valorize os seus conhecimentos. São argumentações ponderadas, questionadoras e, muito, mas muito inteligentes. Estes são momentos únicos que (como estamos falando de marketing permita-me parafrasear uma antiga campanha de publicitária), não tem preço. De quem era mesmo esta campanha? Não lembro, erro de posicionamento da empresa (rs).
Em relação aos questionamentos, nos dois encontros me perguntaram quais os motivos pelos quais a nossa área ainda não se sedimentou como ocorreu nos Estados Unidos – minha palestra além de falar da história do marketing, menciono o seu processo de institucionalização em território norte-americano no início do século passado – o tema de minha tese de doutorado.
Nas respostas dadas, acredito que nossa área de conhecimento ainda não obteve o reconhecimento adequado por vários motivos que elenco à seguir:
Estamos em uma área limite entre a Administração e Comunicação. É uma certa crise de identidade. Em alguns momentos pendemos para a área de administração com a nossa forma lógica de pensar estrategicamente o funcionamento de uma organização e seu relacionamento com o mercado. Do outro pendemos para a criatividade, pensando cada vez mais em campanhas publicitárias e propaganda. Nada contra este pensamento interdisciplinar, afinal de contas temos que saber de direito, psicologia, sociologia, antropologia e, administração e comunicação. Mas, somos mercadológos, com nossas características únicas.
Talvez devido a abrangência dos estudos em marketing. A cada dia importamos novas abordagens que acabam por se tornar sub áreas. Marketing viral, pessoal, industrial, de rede, de nicho, multisensorial, de nível, emocional, global, organizacional,ufa… são tantas áreas de atuação. Apenas não pensamos em um pequeno probleminha. Os países que criam estas novas abordagens já estão com os preceitos de marketing sedimentados, desta forma podem tranquilamente ampliar sua abrangência. Agora, será que no Brasil, como ainda engatinhamos neste processos de sedimentação, não acaba sendo prejudicial? Será que não acaba por confundir os iniciantes? Você já notou que nas área mais consagradas (ou estabelecidas) sempre temos um livro de Teoria Geral? Teoria Geral da Administração, Economia, Direito, e a Teoria Geral no Marketing? É para pensar.
Ou o problema seja o pouco tempo que temos da área no Brasil. O marketing começou a ser estudado apenas na década de 1950. Uma defasagem de 50 anos em relação aos norte-americanos. Assim, estamos ainda engatinhando em nosso processo.
Pode ser também, devido a aplicabilidade da área. A maioria dos estudantes de marketing querem saber apenas das práticas de mercado. Isso prejudica os estudos pois criamos profissionais para o mercado (excelente) e, em um número muito menor, para a pesquisa. Nada contra esta aplicabilidade ela é saudável, mas estes profissionais de mercado deveriam escrever um pouco mais à respeito de seus estudos de caso e das experiências vividas, embasados em conceitos, é claro. Isso ajudaria na falta de publicação que temos. Esta contribuição poderia ajudar ao fortalecimento da área.
Enfim, são tantas hipóteses que daria uma nova tese de doutorado. Mas, para o fortalecimento da área acredito que nós marketólogos deveríamos fazer valer nosso espaço. Escrever mais atigos, exigir que nos chamem pelo modo correto – não somos marketeiros, criar associação mais fortes, revistas especializadas exclusivas para marketing, exigir mais qualidade das obras lançadas no mercado, criar uma cultura tupiniquim de marketing – reduzir a importação de conceitos e ferramentas, pesquisar mais á respeito da área – sem pesquisa não teremos novos conceitos, valorizar mais os poucos curso de marketing que temos no Brasil – e exigir mais curso da área, entre outras formas de institucionalizar a área.
Esse é o nosso papel. É a missão de todo profissional de marketing!!!
ps.: obrigado a todos que estão exigindo novas postagens no blog. Juro que é a correria do trabalho. Hoje, um amigo me cobrou com um excelente argumento: “Seu blog não é para desmistificar o marketing?” É verdade meu amigo, desta forma estou contribuindo (não como deveria, pois posso fazer mais) com a sedimentação da área. Obrigado pelo puxão de orelha!!!